sábado, dezembro 9

Lispectorante


Com ela eu acordo, sempre do meu lado. Café de la manhãna tomado. Suporte para um começo. Com ela saio, sentada em meu colo no ônibus. Uma criança pululando de felicidade clandestina. Com ela chego. Chega! Chego à conclusão que os lugares não têm mais fim. Como as estórias. Depende do olhar, mas ela não me olha, contempla-me as vísceras. Eu a leio como quem quer descobrir o sentido da vida. Com ela descubro o mundo, o corpo e sua via crucis em expansão. Com ela me deito, deleito-me no leito, peito aberto feito flor de lis. Deixo de ser quem sou para ser nela. Sinto a alma crescer. Fermento invisível dentro dum bolo comum chamado multidão. Com ela excomungo. Mastigo a hóstia e sofro de hemorragia interna. O sangue é alcoólico, vinho anti-cristãolizado. Tira-desgosto. Sem gosto da falida instituição. Podemos erguer igrejas com livros pagãos, sem pagar o dízimo. Biblioteca pública da divina perfeição: ela, claro. Clarice bruxa de luz bruxuleante. Amor maeterno por ti. Amém.
(Amem-na também!)

Nenhum comentário: