sábado, março 17

Sacudindo o tapete da alma

Só comigo, em plena sexta à noite, levando bolos de gente por telefone, acumulando bolas de neve das vezes prometidas pelo cano. Os outros têm trabalho, dores de cabeça. Eu tenho esse tempo que me é curto e não por isso amargado pela falta. Saio ao encontro do que não me espera. Acaso atraente acaso! Apareço invisível no meio do mundo para a festa. Alguns conhecidos vão surgindo e acenando, acendendo e apagando, feito luzes de boate. Da luz que me disfarça, apenas a chama do meu isqueiro. Fumo e bebo sem intenção de afogar batidas mágoas, mas de me libertar na pista de dança feito aquelas sapateadoras irlandesas incendiadas. Desexisto no meio do povo visivelmente separado em seus pequenos grupinhos de ostentação; saltito, páro. Interajo pouco. Olho para a sargeta da noite e encontro um velho prostrado na porta do pub, boquiaberto de cansaço, todo duro. A chuva começa a ruir sobre sua face ruguenta. Logo ele pestaneja. Não, não estava morto, bebeu da água dos sem-teto abençoada. Eu amanheço o dia. Eis que me surge um amigo. Caminhamos até o sol esquentar as primeiras horas, depois casa, cama. Cada um para o seu lado. Antes fosse lado a lado, mas ele tinha um compromisso. Todos têm um compromisso, todos têm regras a cumprir, ponteiros a obedecer, uma mulher a esperar, olhos para dormir e eu não tenho nada, não espero absolutamente nada, porque entretenimento e solidão aos olhos dos outros é coisa nenhuma, é coisa coitada, não é diversão. Refresco de pimenta acompanhada de limão.

Um comentário:

Unknown disse...

REPETECO-ECO-ECO
Thanks, my ideal dear!!!