quarta-feira, dezembro 13

Pré-Natal


Ainda não sei o que farei durante e após o zilhonésimo nascimento simbólico do menino Jesus. Sinto-me menos apreensiva do que em Natais anteriores. Sem mais aquela expectativa de mãe, Maria, pela chegada do 25 de dezembro. Sem aquele 'espírito' que falam tanto. Deve ser a idade, como bem disse Ingrid, uma velha amiga que tive o prazer de reencontrar esses dias, depois de tantos anos. Ela acha que conforme vamos adultecendo, a tal esperança também se recolhe...

A cidade à noite, toda iluminada, os shoppings centers com sua decoração arrojada não me dizem nada. Quando era criança, até gostava. Presentes, casa da vovó, peru com farofa molhada, frutas cristalizadas, frescurites agudas de parentada (mas disso não gostava). Gostosas mesmo as rabanadas que a mãe fazia, prato típico carioca à base de pão amanhecido, leite, ovos, açúcar e canela. Impressionante como as coisas vão perdendo o encanto...

Papai Noel, figura menosprezada por mim, pela obesidade conotadora do consumismo, pelo traje vermelho, preto e branco forjado pela Coca-cola capitalista criadora desse palhaço assustador de barbas brancas, tão bizarro quanto Ronald MacDonald. E Por ironia do acaso, passando pelas avenidas da minha cidade-luz, avistei um velhote sujo vestido de Santa Claus. Fico imaginando quão confusas as criancinhas ficam, achando que um pobre-diabo desses vai tirar da sacola um presente, quando de repente ele estende a mão pedindo esmola! O mais esquisito é ver este mesmo homem fantasiado de bom velhinho fora de época. Em plenas tardes ensolaradas de março ou agosto, ainda podemos encontrá-lo mendingando às vezes com a roupa encarnada tradicional, outras vezes de verde, azul ou amarelo. Isto é Brasil!

Mas quem sabe eu mesma o recolha das ruas por algumas horas e o convide à ceia com amigos meus na véspera do Natal. Afinal, são essas mazelas da realidade nossa de cada dia que podem brindar conosco a verdadeira mensagem cristã, que por estes tempos anda meio perdida. E mais que isso, erguer uma taça de sensibilidade humana, repartir o pão com quem devora a si mesmo e, enfim, ligar a massa em união, untar de alguma glória o absoluto. Coexista!

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