Não armei a árvore, não fiquei em casa com minha pequena família, não vi a cara do tédio. Não tomei vinho, não comi peru, não usei roupa nova. Não assisti à Missa do Galo, não acompanhei especiais de fim de ano. Não recebi cartões de Natal, não fui beijada por pessoas falsas, não me deprimi. Não felicitei ninguém por telefone, não dormi cedo, não encontrei parentes.
Saí a visitar conhecidos, ouvi rock and roll, bebi uísque, comi uma noz, vesti vermelho, fiz embrulhos, namorei, brinquei com jogo de perguntas e respostas, ganhei três presentes: uma camisola do Mickey com a qual saí pela rua acreditando ser vestido, um ventilador de mão com 32 funções de luzes coloridas no amigo secreto e uma toalhinha da sogra. Dei biscoitos finos, calendário de parede, porta-retrato com foto personalizada, mini-gaveteiro sortido de apetrechos infantis. Gargalhei, tentei salvar uma velhinha com sua lente-de-contato presa no globo de um dos olhos e fui desprezada por outra senhora, enciumada de mim com os outros no mundo.
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