segunda-feira, maio 24

Em exibição

Sendo tão natural ao homem o desejo de ver, o apetite de ser visto é muito maior.
Há quem corra das câmeras e há também que corra bastantes riscos em frente a estas máquinas. Encaixo-me no rol desses últimos, os detentores daquele dom do "surgir", para não parecer tão inconsequente no uso do termo "aparecer". Até porque me embaraça o paradoxo de me ser tímida, intimista, mas com todos os reveses bons de querer me expressar em altos, bons e visíveis canais midiáticos. Trocando em miúdos, gosto de falar à TV, de cantar, de dizer o que me apraz, em arte. Só não acho tão assimilável à minha autocrítica o resultado dos meus registros físicos. Quando me vejo na tela, estranho no início, depois acostumo e me agrado um tanto. Conheço gente que não se conforma com a própria voz gravada. De fato, soa-nos bem diferente do que imaginamos. O intrínseco é confortável, o extrínseco é, no mínimo, adaptável. O que quero significar com tudo isso é como cita Thoreau:
É tão difícil observar-se a si mesmo quanto olhar para trás sem se voltar.
Felizmente, os mentores da boa comunicação me guiam no momento certo de pronunciar o espírito através desse meio, por meio de meu próprio corpo. Sou do tamanho certo, muito embora minha alma se extrapole para além da pele. O que produzo me enaltece alto. Joaquim Nabuco com sua boa boca vai dizer assim também, complementa o que posso ser em natural, sem que a câmera me saiba, nem que eu me saiba dela:
Evitai de vos observar ao microscópio. Bons olhos, sem vidros, voltados para o que vos cerca é quanto basta.

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