domingo, novembro 26

Intimos Versos

Ate' quando te odiei, eu te amava? Era aticar teu desamor que me excitava, queria sentir tua reacao desaprovando pela primeira vez cada palavra minha. Nao passava de tatica perversa confrontar o nosso odio. Tatica perversa e clara. Porque queria ter certeza de que ja havia acabado tudo entre nos. Viver de resquicios nao admitia, nem admito agora. Era por desejar demais essa completude que nada nos bastava. So' o sexo, desmetaforizando tudo, e' que de fato nos preenchia. Senti a lacuna do amor de Eros. Pois era este o qual nos entusiasmava. Liberacao total das energias. Circulava melhor o sangue imbuido 'as nossas excrescencias ejaculativas. So' deixavamos o ego de lado, lado a lado, ao proporcionar prazer para o outro... Na cama. Gozei contigo, depois gozei de ti. Se me arrependo, tenho duvidas. Preferi ter vivido cada gota de lagrima e semem injetadas em mim que ter permanecido estatica a esperar por um fim. Que se deu mesmo assim.

A mao que escreve e' a mesma que afaga e apedreja. Tomo goles inexoraveis de cerveja todo sabadorescer. Amanheço esquecida, alegre, volto ao trabalho mais centrada enquanto tento prever teu desespero mudo. Deves continuar preso a um computador, o mesmo que nos induziu ao contato, disputando entrelinhas, platonizando donzelas perfeitas em teu onanismo solitario e constante. Acasalar-se consigo mesmo e' por hora mais seguro. Prosseguir alheio e' doentio. Continuo a te julgar, minha corte necessita recortar tua falsa cortesia. Tenho ainda tanto a dizer como quanto tu nao dizes. Nem importo que seja em vao, ao menos serve de catarse literaria essa sublimacao da vontade explicita de te beijar e de te escarrar a boca como bem faz o poema vivo de um Augusto em meio aos anjos:

Ves ! Ninguem assistiu ao formidavel
Enterro de tua ultima quimera.
Somente a Ingratidao - esta pantera -
Foi tua companheira inseparavel!

Acostuma-te a lama que te espera !
O Homem, que, nesta terra miseravel,
Mora entre feras, sente inevitavel
Necessidade de tambem ser fera

Toma um fosforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, e a vespera do escarro
A mao que afaga e' a mesma que apedreja

Se a alguem causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mao vil que te afaga
Escarra nessa boca que te beija.

Augusto dos Anjos

Nenhum comentário: