domingo, março 11

Bem mais estranha que a ficção

Mamãe, mamãe, não ligue para mim. Nasci com uma minhoquinha gorda no lugar de algum miolo neural. E essa minhoca cabeça oca pôs-se a multiplicar em mim. Bobagem. Comecei a fumar depois que comecei a cantar pra valer. It's good to my ironic voice, certainly! É estranho, hoje o dia foi absurda-mente estranho. Como foi o seu? Bem, deixe-me começar, adoraria lhe escutar, mas preciso escrever. Encontrei quem eu não queria no virtual, conversas on-line me irritam tão! Daí olhei os horários do Cinema no site do mesmo jornal que recebi por debaixo da porta. Também acho, seria mais sensato se eu abrisse e lesse o papel, mas abri e li a página na Internet. Praticidades sem tato algum. Decidi a película: Mais Estranho que a Ficção. Não por terem me falado sobre, mas por haver literariedades atraentes.

Com preguiça de escovar os cabelos, meti minha velha boina no topo, uma calça preta e uma camiseta que, por acaso, combinou com o esmalte verde-acinzentado-sóbrio da carne unha. Ônibus demorado. Cheguei, azucrinada com a pajelança de crianças mal comportadas no "vagão". Fumei no aguardo. Aberta a sessão, escolhi um lugar na última fileira, ao centro. Enquanto o protagonista do filme contava cada escovação de dente, calculando seus passos, matematicamente, em direção ao trabalho, uma senhora atrasada (na real), chega à sala escura do cinema e tropeça feio, caindo por sobre as poltronas.

De volta à surrealidade. A escritora Karen Eiffel tem todo o domínio sobre seu personagem Harold Crick. Normalíssimo se não fosse o fato de ele existir literalmente, além da criação. E ele pode morrer, se as mãos criadoras digitarem algumas linhas acerca de seu destino. Ora, deuses, deuses hábeis do material humano. Esta autora, de hábitos exóticos, passou todas as cenas trajando pijamas e sem conseguir terminar um cigarro. O que ela fazia com os tocos de fumo? Cuspia em guardanapos e os apagava ali, bem embrulhados, punhava-os nos bolsos do hobby ou os espalhava pela mesa sobre a qual subia a treinar possibilidades suicidas - jogar-se da janela de seu edifício. Difícil tarefa? Não sei, assistam, assistam!!!

THE END. Os créditos do filme subiam quando, de súbito, um estrondo ouço próximo: outra pessoa tropeçou e caiu. Desta vez, um pobre velhote desmorona todo o seu corpo no chão. Todos se viram, olham pasmados. Li um esboço de riso no lábio de uma moça. Um choque. Qualquer semelhança, não mera coincidência. Eis a real ficção do dia. Absurda!

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