sábado, março 10

Solamente

É justo esse vazio que me preenche. Ouço o ventila-dor da placa-mãe, de um processador meio vivo e lento, como se eu tomasse colo e refletisse melhor por isso. Portas fechadas ao lado, entes de sangue dormindo enquanto eu soluço por dentro pelos sonhos dizimados na insônia. Assim, poderão dormir melhor meus desassossegos a fora. Pari, letra por letra, mas sem dor. É porque estou só, eu mesma me copulo com a mente, minto sem perder a verossimilhança. Só para mim. Multidão me enche, alastra ovo de povo de bicho. Eu, do mato, embora em capital nascida. Temo é perder essa liberdade sonorífera do silêncio que sente. Não fui à festa dos outros, nem compartilho do cansaço dos pretendidos a levantar cedo amanhã. Faço parte do à parte em contato com o invisível. Posso citar o que vejo, mas a maneira é de quem ler. Vi minha sombra na parede mover-se, mover-se-ia melhor se não nascesse a cada dia um só lar em redor: sol tinindo nas dessombras.

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