quarta-feira, março 14

Pais agem

Eu tenho nuvens nos olhos. O reflexo do reflexo do céu, que bate na água e a água reflete dentro do meu. Uma criança foi capaz de me olhar bem fundo e dizer o que não sabia sobre mim mesma. Chuvo, chuvo, sim. Tem tanta dor e medo e tanta humanidade nisso. Húmus, fertilidade. Sou uma menina em defesa do que não pude sentir. A gente tem de se deixar lavar, abrir o azul, o vento a afastar os montes. Todos querem o brilho fácil, mas é preciso obscurecer para iluminar.

Antes de sair de um ventre, saimos de outra prisão. Sempre um ciclo de liberdades. E queremos mais, abrir esferas, arrancar grades. Aonde se vai parar? Não, não para. Pais não têm o direito sobre nós. Ó, meu pai, senhor omni-tudo! São e não são nossos autores. Eu, mãe de palavras sem fim, dôo, e dói, porque lido com verdades absurdas, capazes de tanger qualquer verossimilhança. Todos riem do nu ou se contrangem. Todos querem usar o colorido. Minha capa protetora é a pretidão do meu corpo sem panos.


Sou tão ciente da minha loucura, se loucura for essa sensibilidade mórbida manchada por terceiros. Minha alma é impermeável ante a condenação precipitada. Pais agem de forma abrupta, bagagem de irmão, herdeiros do pão dividido à mesa ou da fome compartilhada na pobreza. Sou pai da solidão, do passado, do mistério do por vir. Pais MEN. Mais mãe, mão-socafago. Ferro a fogo: tudo ilumina, mesmo que mine o coração. Mulher. Sem erro. Não há sexo do bebê, nem distinção. Estamos muito além disso. Olhar o olhar do espelho, o falso espelho invertido, convertido no que se quer ver. Tem de se ver o fundo, a madeira que o suporta, se corrói ou se paz fica, margeando o rio da passagem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ah essa tua entrelinha congestionada por onde eu guio meus olhos sempre cansados eh um caminho desconhecido no qual eu me antecipo. Não sabendo por onde ir, eu mantenho a calma, pq advinho a saída no instante derradeiro.

Bjo

TarcoZan

Anônimo disse...

demora mais um dia agente aprende saber que não somos capazes de nos olhar de saber que somos..pois temos uma alma fechada..que ao longo dos anos agente mesmo vai fazendo esse favor..de se fechar pensando que ninguém vai vêr..mais quem tem a alma aberta para o mundo..indentifica de cara..quem agente é...bom moça...até mais...

literaria disse...

Lola, cortra e escreva, já que escrever é viver. Gostei das crônicas.

abraços