quinta-feira, julho 19

Quem?

EU


Eu sou eu.
íntegro e inviolável dentro de mim mesmo.
O que não se descobre.
Anônimo sob minha própria espinha.
Atual em minha sombra incorpórea,
Sem faltar um só de meus gestos físicos.
Eu sou eu. O fantasma de preto
Escanchado no arame do quintal,
Sob a sombra das árvores e sob a sombra da lua
misteriosamente colhendo o silêncio com as mãos invisíveis
e tecendo uma mortalha com o nó dos dedos
para vestir o próprio corpo.
Eu sou eu. O retrato destituído de vida.
O gesto estático.
O que está no limiar e afogado no abismo.
O que anda vestido e nu, sendo louco e poeta.
Eu sou eu e sozinho. Diverso sobre mim e sob eu mesmo.
Oculto e visível como a lua caída no poço.
Proclamado como o homem dentro da praça,
no meeting, sacudindo com os gestos da boca
palavras secas nos olhos da multidão.
Intocável e impossível
como o que não se conhece e não morre.


José Alcides Pinto

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