segunda-feira, abril 27

O Enigma Vazio

Havia me decidido não sair de casa hoje. A semana que passou me fora ocupada o bastante. Iria, portanto, descalçar o salto apertado do mal costume, pondo as pernas para o ar. O tempo condizia com a preguiça. Mas eis que me surge um amigo irrequieto em dias nublados e me convida a andar a pé até a universidade. Lá haveria uma palestra do Affonso Romano de Sant'anna, um dos caras mais admiráveis dessa literatura viva. Combinamos de nos encontrar a certa altura da avenida 13 de maio. Ele atrasava e eu me via já próxima à igreja. Não rezava, adentrei o antro dos aflitos meramente por prevenção de assalto enquanto ele não chegava. Despistei o bandido internalizando a frase: "Jesus salva". Salvou mesmo! Meu amigo apareceu finalmente para seguirmos a outro templo, o do saber. Era abertura da VI Semana de Humanidades da UFC e UECE, auditório da reitoria rosa lotado, orquestra de sopros executando peças nacionais tais "Na baixa do sapateiro", de Ari Barroso.

Foi divertido, exceto pela mesa composta por reitores, coordenadores dos cursos, com uma fala tediosíssima de tão longa. Quando tudo parecia interminável, nós nos pusemos a criticar o mundo na troca de bloquinhos de anotação. Pintou tanta besteira, que numa hora lá nem me segurei a crise de riso. Tapei minha boca e os ombros se puseram a tremer por mim. hahahaha O Affonso notou, sentamos bem na frente. Digo que o que ele notou mesmo foi a cerimônia por demais custosa. Um dos curadores da parada levou mil páginas sobre a biografia do conferencista do dia. Até que nem Affonso aguentou e pediu pro falador cessar a pompa, provocando o riso geral na platéia. Disse: "vou botar no meu curriculum: - eu vi os Beatles tocarem em Los Angeles e o Michel Foucault jantou lá em casa!" hahahaha Ele pediu pra que levantássemos, fizéssemos uma ginastiquinha, por tanto tempo sentados nas poltronas duras.

Se eu já apreciava os escritos do cara, passei a nutrir um carinho pessoal por ele. Na Bienal do livro de 2007, se bem me lembro, ele estava aqui com sua esposa Marina Colassanti. Falaram tanto da amiga Clarice e de forma tão simples dos seus trabalhos, que me apaixonei. Na época havia fugido de uma outra "cerimônia", quando ganhei um concurso literário. Sei que disse umas bobagens no microfone, agradeci meu prêmio e fugi pra palestra do Affonsão. Hoje tive o privilégio de revê-lo, mas tecendo filosofias acerca da pós-modernidade e suas consequências. O problema da autonomia do sujeito na arte e na sociedade. Há uma entrevista para o Jornal O Povo que medita a respeito:(clica e lê)! Termino o post satisfeita, comprei caramelos na volta, tecendo umas epistemologias malucas, questionando meus próprios conhecimentos.

Nenhum comentário: