terça-feira, julho 14

Aposta alta

Já joguei na loteria crente que iria ganhar. E fui convicta da sorte, na escolha pouco aleatória dos números, geralmente datas, quartos de hotel ou motel e placas. No resultado, nenhuma aproximação. Bobagem, tenho me mexido para ganhar dinheiro, ao menos. Claro que se me viesse uma vitória dessas eu teria até parado. Parado que digo, fazer absolutamente nada por obrigação, fruindo da boa vida ao redor desse planeta. Engraçado como a gente sonha à toa, felizmente não arranca pedaço, só acrescenta uns vácuos ao ócio. Usamos de uma lógica acomodada, tipo aquela dos horóscopos. Tá, eu explico. Quando lemos a passagem do jornal dedicada ao nosso signo, logo internalizamos o positivo, caso a previsão nos revele prosperidade na vida sentimental ou nas finanças. Contudo, se o trecho começa a dizer que as manhãs estão nubladas em todos os setores, sinal de que a seção astrológica está equivocada. Tendemos a evitar o problema com certa preguiça otimista. Deve ser por isso que o ser humano não aprendeu a perder. O ter tornou-se lema essencial. O acúmulo de acertos, na verdade, turva o entendimento. É como se um balonista passasse anos inflando a borracha de gás, inflando e inflando bem bonita a crescer a bola, que não se conforma ao vê-la explodir, por incontentar-se com o razoável ou o bom. E por que tem de ser ótimo, imenso e colorido sempre? Por isso que morte vira tema sobrenatural ao invés de ser um processo naturalíssimo. Morrer é só abrir espaço a coisas novas. Tudo tem fim e um fim, uma finalidade, por mais que nos desencontremos desses porquês. O final nada mais é do que o começo propriamente dito. Dum extremo ao outro, temos o todo.

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