quinta-feira, julho 16

Femeando detalhes




Eu que nem roía unha, passei a comer o casco agora. Da última vez devia ter uns onze anos. Não satisfeita com o retrocesso pouco higiênico, cortei minha amostra de ser fatal. Resquícios do esmalte de duas semanas na ponta dos dedos só para disfarçar. Logo cresce... Lembro que me disse o mesmo ao raspar a cabeça debaixo do chuveiro, após meter a tesoura nos longos cachos. Após o câncer do preconceito, de fios crescidos sob lenços e chapéus, adequei-me aos modismos do bonito. Boa loira que sou, fiz escova inteligente. Continuo a mesma, mas a minha voz... De cover, passou a compôr as próprias canções, assumindo empostação natural. Deixe-me ver o que mais em mim mudou... Ah, a miopia está estabilizada, porém continuo a confundir pessoas na rua. Hoje, na hora do almoço, por exemplo. Estava em um restaurante com um amigo quando avisto outro provável conhecido. Olhei da vez segunda, constatando, só que meio tímida para ir até lá cumprimentá-lo. Ainda bem que não o fiz.

Na saída, mais de perto, pude notar que se tratava de uma senhora gorda e grisalha, ainda sobre uma cadeira de rodas motorizada. Achei que fosse o colega rotundo, também de cabelo cinza. Ouvi-o até falar por entre as conversas das mesas, nesse meu psicoilogismo absurdo. Que bom que ele ainda anda, toca e tudo, apenas não estava lá... Falar em trocar, eu nem me toco do mundo. Tem dias que o teto pode desabar, cair esses aviões todos aí de ultimamente do meu lado, que mal noto, mouca de tato. Descobri-me míope de percepção além da visual. Por um lado é bom se passar por sonso, fingir que não é contigo. O foda é que agora vão saber que não estava fingindo esse tempo todo. Será? Melhor despistar quem de besta me faz, porque assim me faço de besta para melhor passar.

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