quinta-feira, novembro 26

ZOADA!

Amanheci ao som de furadeiras, vozes estrondosas e latido da minha cã Nina. Trabalhadores vieram arrumar o teto da sala. Puseram PVC das 9 às 19 horas ininterruptas. Isto porque minha mãe ainda inventou de pedir para trocarem as cortinas do quarto de casal. Antes havia uma persiana cinza, daquelas verticais, de tecido dito rígido, mas esta quebrou com o bater do vento e ressecou por tanto sol na janela incidindo. Agora colocou uma dessas de palhinha, com madeira flexível envernizada.


O cúmulo da dondoquice foi ouvir meu irmão se debater de ódio em sua alcova morcegal, por ter sido desperto também pelo barulho. Ele que geralmente passa a semana fora, a trabalho, dando aula no interior, chegou desprevenido por não saber da visita. Assim, berrava na tentativa fracassada de abaixar o volume das conversas, batidas na parede e au-aus da, não menos afetada, Nina.


Decidi levantar. Ao abrir a porta, o susto: móveis empilhados por todos os lados, cobertos a fim de não atravancar o vai-e-vem, nem sujar no poeiral. Tomei café na mesa da cozinha entre CDs e livros, preocupada com a fuga daquele estardalhaço doméstico. Ao sair dali, meti a cabeça num suporte de ferro, o que me fez embrutecer de vez. Trouxeram-me até gelo para aliviar a dor. Voltei à cama, lendo ENSAIOS, de Waldo Emerson à espera do almoço. Logo mais à tarde decidi ir me consultar no otorrinolaringologista, na intenção não mais adiada de saber porque ando expelindo tanta secreção em consistência de cola. Quanto incômodo!


Prostrei-me naqueles tradicionais sofás de clínica, driblando o sono com livro ou jogando SUDOKU pelo celular. Fui chamada a entrar no consultório após uma hora de espera. Relatei ao médico o problema, enquanto ele observava meus ouvidos com sua lanterninha poderosa. Depois, com um palito de picolé especial pousado em minha língua, pediu que pronunciasse o som da vogal E, examinando por fim a garganta. Tudo limpo, exceto pela suspeita de sinusite, o que o levou a me encaminhar a outro exame mais aprofundado: nasoendoscopia. Então, arremessou-me a uma nova e bem mais longa espera no tal sofá sonífero...


Duas horas se arrastaram quando, subitamente, uma senhora magra e loura que muito reclamava ao sentar-se do meu lado, foi atendida. Se ela aguardou 10 minutos foi muito mas, mesmo assim, esculhambou todas as recepcionistas: - Ô povo lesado, meu Deus!!! - E bufava, sacudindo as pernas. Ao entrar para a consulta, todos que dormitavam ou assistiam ao filme do Pé Grande na Sessão da Tarde, despertaram de repente. Ouviam-se gritos, pancadas na porta. O estrondo desse barraco foi parar na sala de espera, quando esta "paciente" e o doutorrino trocaram farpas. Ela o acusou de agressão por ter lançado uma caneta na mesa de vidro, com raiva. A maluca rasgou a receita médica na cara dele, que não hesitou em chamar os seguranças para retirá-la da clínica. Decerto, a imagem do local ficara abalada.


Nesse momento eu estava entre dois outros clientes, com os quais comentava sobre o incidente: uma mulher super maquiada, que por ter metido um cotonete no ouvido até furar, ficou meio surda e deu razão à doida, além de um negrão forte que perguntava sobre meu exame sem parar. Enquanto tentava explicar à surda que havia uma hipocondríaca descontrolada clamando por um atestado médico sem ter enfermidade alguma, o fortão do meu lado me deixava nervosa. Ele se espantou por eu estar tranquila ante a inserção de um endoscópio imenso em minhas narinas, com detalhe para a câmera na ponta, através da qual visualizaria horrendas mucosas projetadas na TV à minha frente. O alívio em parte chegou quando me diagnosticaram desvio de septo e alergia à poeira. Meus cornetos estavam inflamados, porém, o que mais me inflamou foi esse humor.

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