O cúmulo da dondoquice foi ouvir meu irmão se debater de ódio em sua alcova morcegal, por ter sido desperto também pelo barulho. Ele que geralmente passa a semana fora, a trabalho, dando aula no interior, chegou desprevenido por não saber da visita. Assim, berrava na tentativa fracassada de abaixar o volume das conversas, batidas na parede e au-aus da, não menos afetada, Nina.
Decidi levantar. Ao abrir a porta, o susto: móveis empilhados por todos os lados, cobertos a fim de não atravancar o vai-e-vem, nem sujar no poeiral. Tomei café na mesa da cozinha entre CDs e livros, preocupada com a fuga daquele estardalhaço doméstico. Ao sair dali, meti a cabeça num suporte de ferro, o que me fez embrutecer de vez. Trouxeram-me até gelo para aliviar a dor. Voltei à cama, lendo ENSAIOS, de Waldo Emerson à espera do almoço. Logo mais à tarde decidi ir me consultar no otorrinolaringologista, na intenção não mais adiada de saber porque ando expelindo tanta secreção em consistência de cola. Quanto incômodo!
Prostrei-me naqueles tradicionais sofás de clínica, driblando o sono com livro ou jogando SUDOKU pelo celular. Fui chamada a entrar no consultório após uma hora de espera. Relatei ao médico o problema, enquanto ele observava meus ouvidos com sua lanterninha poderosa. Depois, com um palito de picolé especial pousado em minha língua, pediu que pronunciasse o som da vogal E, examinando por fim a garganta. Tudo limpo, exceto pela suspeita de sinusite, o que o levou a me encaminhar a outro exame mais aprofundado: nasoendoscopia. Então, arremessou-me a uma nova e bem mais longa espera no tal sofá sonífero...
Duas horas se arrastaram quando, subitamente, uma senhora magra e loura que muito reclamava ao sentar-se do meu lado, foi atendida. Se ela aguardou 10 minutos foi muito mas, mesmo assim, esculhambou todas as recepcionistas: - Ô povo lesado, meu Deus!!! - E bufava, sacudindo as pernas. Ao entrar para a consulta, todos que dormitavam ou assistiam ao filme do Pé Grande na Sessão da Tarde, despertaram de repente. Ouviam-se gritos, pancadas na porta. O estrondo desse barraco foi parar na sala de espera, quando esta "paciente" e o doutorrino trocaram farpas. Ela o acusou de agressão por ter lançado uma caneta na mesa de vidro, com raiva. A maluca rasgou a receita médica na cara dele, que não hesitou em chamar os seguranças para retirá-la da clínica. Decerto, a imagem do local ficara abalada.
Nesse momento eu estava entre dois outros clientes, com os quais comentava sobre o incidente: uma mulher super maquiada, que por ter metido um cotonete no ouvido até furar, ficou meio surda e deu razão à doida, além de um negrão forte que perguntava sobre meu exame sem parar. Enquanto tentava explicar à surda que havia uma hipocondríaca descontrolada clamando por um atestado médico sem ter enfermidade alguma, o fortão do meu lado me deixava nervosa. Ele se espantou por eu estar tranquila ante a inserção de um endoscópio imenso em minhas narinas, com detalhe para a câmera na ponta, através da qual visualizaria horrendas mucosas projetadas na TV à minha frente. O alívio em parte chegou quando me diagnosticaram desvio de septo e alergia à poeira. Meus cornetos estavam inflamados, porém, o que mais me inflamou foi esse humor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário