domingo, janeiro 7

Papo Atroz

Hoje me falaram dos bestializados das favelas dos bairros impisados pelos classe-média-alta urbana. A população é tamanha que, se não houver controle de natalidade imediatamente, os que estão à margem virão à tona e dominarão a área com seus trabucos cheios de bala, mulheres gordas lactantes cercadas de crianças de futuro adivinhado na prostituição e na discórdia. Por isso se drogam, para rir um bocado, encarar o real mais surrealizado. Vê-se gente rastejando em lixo, arremessando porcos putrefatos em lagos, vísceras de galinha janela a baixo, povo pisando em merda barrenta como se fosse grama molhada, pés descalços dos pobres meninos pobres ameaçados pela urina dos ratos, pela água infiltrada, pela vida maltratada que se delineia antes mesmo de nascerem, na marra, feito bezerro na seca... Sabiam que a vaca não dá leite quando o filho morre? Fica traumatizada. Então, uns homens arrancam o couro do animalzinho morto e põem sobre outro vivo. Há mães que identificam o cheiro e passam a amamentar. Outras vaquinhas espertas não dão a teta a torcer e permanecem com aqueles olhos tristes. Já repararam nos olhos desses bichos? Carregam o peso e o pesar do sacrifício humanimalesco. A miséria se aproxima do pior dos instintos feito urubu em sua colheita. Vendo cenas assim, qualquer um sente-se reles carcaça. Está enojado, caro amigo? Renda graças por ainda se manter vivo, asseado, civilizado(?). Um dia iremos todos parar na mesma sarjeta imprevisível... Boa sorte!

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