domingo, janeiro 11

Do imprevisível que sempre me acompanha

Os dias, "aqueles", pegaram meu humor para brincar de jogar cartas. Nem queria sair para não consternar em blefes, mas a saudade empurrou minhas pernas para pulular em show de rock com namorado e alguns conhecidos. Nada programado, ele me liga a fim de não nos desligarmos em mais um final de semana, haja vista ter dado ocupado desde o desfecho do último, aquele sábado bom e o domingo plácido, maravilhoso, com cara de despedida dos bons momentos passados juntos. Enfim. Dos presentes, colegamigos de bem, um intelectual descolado com repentes punk divertidíssimos, uma baixinha afável que entornou Martini feito água, uma salva-vidas que nos deu carona gente fina e uma desconhecedora da cultura local que seca relacionamento alheio porque não tem.

E a banda de abertura pro Biquini Cavadão me entediou o espírito, Mafalda Morfina, tanto quanto a gentalha que invadia o espaço feito bicho, naquele empurra-empurra clássico dos espetáculos gratuitos. A vocalista me causou enfado com uma postura fake pittyana, mas o instrumental estava bom, boa a estrutura do local - Parque do Cocó. Até elogiei em entrevista quando um repórter com sotaque do sul nos convocou a uma palavrinha pra TV. Faltou-me ar no meio da multidão, calor. Sushizaram-me, felizmente, comi até polvo. O sangue foi me descendo violento do útero até a calcinha. Fui esboçando fracos sorrisos até um pós-show no bar. Mais cervejas me fizeram bem, o papo fluiu, mas quando meu humor resolveu engatilhar uma alegria intensa, meus parceiros de bebida caíam de sono. Daí alguém veio me deixar no portão de casa fazendo juras de violão no dia seguinte. Nem Tchunz!


Ressaca. Dormida longa. Quando acordo, um convite de praia fora de hora perdido. Inconformei-me por um momento, liguei no Sílvio Santos, almocei bem tarde, depois saí. Coincidentemente feliz foi o encontro com meu amigo dentro do mesmo ônibus. Nós nos rendemos a um capuccino gelado com borda de chocolate na cafeteria e vimos uns filmes que há tempos eu queria assistir. 3 curtas sob o tema "Projeção". No primeiro, um homem comum acha que é presidente dos EUA e mata a mulher, acusada em sua sandice de traição política. O filho deles levanta de manhã, encontra o pai vidrado vendo programa religioso na televisão, com a mãe estendida em sangue na varanda. No segundo, um pedreiro de rotina brutamente insatisfeita resolve, na saída do trabalho, entrar num botequim para cantar num videokê e quebrar um pouco o cimento do cotidiano. No terceiro, um nerd fascinado por HQs, incompreendido por todos, torna-se herói de verdade, salvando mocinhas dos bandidos nas ruas. Créditos erguidos ao final, fuga para uma long neck e para a fila de um monólogo sobre o Garcia Lorca.

Pedintes azucrinando no pé, fotos tiradas via celular, quando do nada surgem criaturas performáticas. Uns conhecidos do teatro, coleguetas do meu amigo. Um deles, alto, chato, de cabelos compridos, de fala ininterrupta, começa a me fazer perder a paciência. Disse ter enxergado em mim uma áurea gay, daí fui um tanto indelicada com ele, algo que o fez voltar atrás e tecer um papo menos afetado comigo. Adentramos a peça e um ótimo ator desempenhou seu papel solitário no palco, com direito a toques de piano e canto. Entretanto, o tédio nos consumiu e saltamos para fora, caminhamos pela praça verde comendo pipoca doce, fizemos mais um social com povos novos e depois casa. Foi bom como devia ser. Surpreendi, não me prendi em casa nem no pensamento do outro. Fui à luta e acabei achando engraçado tudo.

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