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sexta-feira, outubro 30

Colação de grau

Hoje era pra ser um dia importante em minha vida. Aliás, é, só que não estou dando a devida importância. Vestirei uma beca com faixa roxa na cintura e um babador exótico colado com velcro abaixo do pescoço. Enquanto muitas formandas lotarão os salões de beleza esta manhã, não irei chapear minhas madeixas desarrumadas. Vou dar uma prendida, melar um gel apenas. A maquiagem já me diverte, gosto de pintar máscaras para alegrar meu circo interior, mas sem exageros. Estou cheia de olheiras, em tédio, por dormir para esquecer algumas dores ou por manter-me acordada até o amanhecer nesta Internetura fugidia tecendo as minhas LETRAS e artes.



5 anos na faculdade pública passei. Não quis baile de formatura. Ora, 2 mil reais!? Antes uma viagem, um porre de cana barata do que me render a uma frugalidade dessas. Não bastaram as xerox tiradas dos livros que não pude comprar? Sanguessugas! Breve, pelo dia 7 de Dezembro, vão inaugurar uma Placa Mural com minha cara sorridentamarela. Decerto, vão pendurar isso nalguma parede com infiltrações e rachaduras lá do Centro de Humanidades. O tema escolhido pela turma 09.1 também não combina em absoluto comigo: Patativa. Sem menosprezar o poeta conterrâneo, mas sua literatura regionalista não bate com meu aprendizado dentro do curso, algo mais universal e abrangente de Humanidades. Nunca querem ousar...

Estou só esperando dar a hora para sair de casa, assinar o livro de atas, passar pelas formalidades todas que nem imagino como devam ser e partir. Ficarei feliz com as parcas presenças a me prestigiarem em fase nova ali, especialmente meu pai e meu namorado. Grata pela confiança. Veremos o depois então como será. Em fotos guardadas, em diploma emoldurado, em trabalhos conquistados. Vitórias!

segunda-feira, setembro 28

(De)formada, enfim!


Santo Ambrósio me ensinou a colocar acima de qualquer estudo o estudo de nós mesmos. Não por ser cristã, mas adepta da aprendizagem alargada pela rua, experimentei melhor a vida ao ingressar na faculdade de Letras. Passei bem pelo vestíbulo do vestibular, olhei-me as entranhas no espelho, muito porém. Ali na universidade conheci peçonhentos seres, meti-me em confusões tamanhas, só que de tudo pude tirar proveito, prova e privacidade.

Moldei o pensamento através de livros, com embasamento e vazamento de verve nos escritos. Fiz parte de trocentas (ou troçentas ou mesmo traçentas) comunidades ditas literárias, perfurei egos aos gritos, emaranhei minha voz tímida entre pessoas esclarecidas, outras esclerosadas. Bom. Aprendi a beber no barzinho ao lado da UECE, a jogar cartas sobre o birô do professor, a parar de chegar tão cedo no turno da manhã, a observar mais. Já reprovei por falta, já mudei para o horário da tarde e, por fim, ganhei a noite do mundo.

Tive a alegria nada hipócrita de passar por greves, perder ganhando semestres inteiros longe das carteiras escolares, sentada nos bancos de praça lendo ou cinemando, enfurnada em teatro. Conheci Almodóvar, amigos gays interessantíssimos os quais cultivo até hoje, fanzines, música, poesia. Fiquei careca na época do coral, quebrei o pé a caminho da aula, exibi o gesso desenhado. Saudades dos bilhetinhos trocados no fundo da classe, dos mestres gagos, dos personagens todos, das conversas etéreas com crise de riso. Tantos momentos, também, em que me senti desmotivada, sem ânsias por lecionar normas. Na beira da praia tentei morrer, minha índole não permitiu, contudo. Prossegui com preguiça, procrastinada mais que obstinada, e consegui sobreviver. Agora ficam me perguntando meus planos, enquanto acho tudo sensacional. O que vier, será, ué. Grata sou aos meus genitores pela boa educação, incentivo, ingrata sou ante as pressões e depressões por que passei, mais nada.

Nota 10 na monografia sobre uma Hilda Hilst escandalosa, fugidia dos acentos acadêmicos tal como eu, tal como meu tal e qual sem tanta regra, só trégua (por enquanto) é o que almejo. Com licença que vou ler o jornal na varanda, passar um tempo sem pensar no sustento que meu mérito dar-me-á no futuro. Há de dar (certo). Sempre dá.